Lula Vencerá a Inflação dos Alimentos?
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Lula Vencerá a Inflação dos Alimentos?

Análise da Crise Alimentar e seus Impactos Sociais no Brasil

Bruno Mota Lopes
Bruno Mota Lopes

A inflação dos alimentos no Brasil persiste como um desafio complexo que combina fatores de oferta, dinâmicas globais, efeitos climáticos e políticas econômicas. Entre 2020 e 2024, os preços dos alimentos acumularam um aumento de 55%, quase o dobro da inflação geral de 33%. Em 2025, embora haja sinais de desaceleração com o IPCA-15 de fevereiro em 0,61%, a pressão sobre o custo de vida permanece crítica, especialmente para famílias de baixa renda que destinam até 61,2% de sua renda à alimentação.

A pressão é mais aguda nas carnes (alta de 20% em 2024, com projeção adicional de 20% em 2025), no café (subida de 67,87% desde fevereiro de 2024) e no óleo de soja (valorização de 8% atrelada à demanda por biodiesel). O dólar acumulou alta de 35,66% entre 2020 e 2024, tornando o Brasil uma "vitrine de exportações" e contribuindo para o desabastecimento interno. Choques climáticos como El Niño e La Niña provocaram quebras de safra, com cada 1°C de aumento na temperatura elevando a inflação alimentar em 0,2%.

As fragilidades institucionais, como o desmonte da Conab a partir de 2016, reduziram estoques reguladores, limitando a capacidade de intervenção em crises. A falta de discussões sobre inflação de oferta no Brasil resulta na aplicação sempre do "remédio dos juros", caracterizando toda inflação como de demanda. As consequências sociais são profundas: famílias de renda até R$ 2,1 mil enfrentaram aumento de 22% na participação de alimentos no orçamento desde 2020, com 33% das crianças em domicílios pobres apresentando déficit nutricional.

O governo federal adotou medidas como crédito extraordinário de R$ 4 bilhões para o Plano Safra e incentivos a tecnologias agrícolas. Contudo, economistas criticam a efetividade limitada, já que fatores externos (câmbio, logística) e internos (clima, produtividade) neutralizam parte do impacto. A previsão do IPCA para 2025 é de 5,03%, com inflação alimentar em 3,91%.

A conclusão é que resolver esses entraves exigirá não apenas medidas paliativas, mas um pacto setorial envolvendo investimentos em tecnologia, logística e políticas de renda focalizadas. Enquanto isso, o governo caminha sobre um fio: qualquer novo choque de preços poderá reacender o fantasma da instabilidade política, com consequências graves para os menos protegidos.